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Mostrando postagens de maio, 2020

As três irmãs

Ela chegou em casa. Largou as malas no chão do quarto e olhou ao redor. Tinha sido uma viagem longa e Marisa estava cansada. Tudo estava exatamente como sua esposa havia deixado, cada coisa no seu devido lugar. Ela se atirou na cama. Cassandra, sua esposa, sentou ao seu lado e acariciou seu rosto, perguntando como fora a viagem. “Nunca havia pensando que essa viagem pudesse ser tão estressante”, respondeu. Reencontrar suas irmãs, Miriam e Nadine, havia sido muito bom. Fazia muitos anos que as três não se reuniam. “Porque? ”, Cassandra perguntou. “A necessidade de controle de Miriam conseguiu me tirar do sério e acabamos discutindo. Nadine teve que intervir para apaziguar a situação”. Marisa era a mais nova das três. Sempre teve um temperamento difícil, se irritava com facilidade, nunca foi muito boa em expressar ou lidar com seus sentimentos. Aos poucos, aprendeu a descontar seus sentimentos na comida. Depois que os pais se separaram, Marisa acabou indo morar com a mãe em outro estado,

Uma noite quase insone

Era quase uma da manhã, mas nada ainda de sono. Liguei a TV. O relógio deu uma hora, uma e meia. O sono começou a dar as caras e desliguei a televisão. Eu estava quase pegando no sono quando algum cachorro na vizinhança começou a latir. Tirei a venda e o protetor de ouvido. Fiquei deitada na cama, no escuro, observando as sombras provocadas pela pouca luz que conseguia atravessar a pequena brecha na cortina. Olhei para o lado. Meus óculos, o protetor de ouvido e a venda pareciam olhar para mim, como se perguntassem: “e aí? Você não vai dormir? ” Foi quando decidi procurar uns vídeos para relaxar no YouTube. Não podia ter tomado decisão pior. O som de piano usado como música de fundo provocou uma agonia profunda em mim e comecei a chorar. Rolei para o lado e me encolhi, como um bebê, e continuei chorando, ruidosamente. Deixei o vídeo de lado. Depois de vários minutos, consegui me acalmar. Levantei da cama, andei pela casa. Cheguei até o escritório e espiei a rua pela janela. Nada. Não h

Estou namorando

Eu estou namorando uma mulher. Isso é importante? Para mim, sim. Eu sou uma mulher, me identifico com o sexo no qual nasci (sou uma mulher cis) e sinto atração sexual por outras mulheres (sou lésbica). Eu JAMAIS me relacionaria com um homem. É assim que eu me identifico, faz parte de quem eu sou, faz parte de mim. Estou em um relacionamento com uma mulher negra. Isso é importante? Sim e não. Sim, porque isso define quem ela é como pessoa, como mulher, seus antepassados, sua história. Porque isso é importante para ela. A cor da sua pele não deveria fazer diferença alguma na nossa sociedade que, infelizmente, é racista e machista. É racista sim, por mais que muitas pessoas não queiram ver ou reconhecer isso. Até algum tempo atrás, não víamos pessoas negras em local de destaque na sociedade. Na premiação do Oscar deste ano (2020), por exemplo, teve apenas UMA indicação para artistas negros: Cynthia Erivo foi indicada como Melhor Atriz por sua atuação no filme Harriet, que também

O encontro

NUM FUTURO NÃO MUITO DISTANTE Fernanda estava sozinha em casa quando tocou a campainha. E não podia ficar mais surpresa ao ver quem estava do outro lado do portão. “Como ela descobriu onde eu moro?”, ela pensou ao ver sua ex-namorada, com o cachorrinho preso pela guia, abanando o rabo de felicidade ao ver Fernanda, como fazia com qualquer um que se aproximava dele. -- O que você está fazendo aqui, Camila? – Foi sua primeira pergunta, sem nem sequer se aproximar do portão. Um misto de sentimentos tomava conta dela, e ela não sabia muito bem como reagir com aquela visita inesperada. Raiva. Mágoa. Dor. Traição. Mentira. Injustiça. Tristeza. Um misto de sentimentos tomou conta dela.  Na verdade, ela ainda estava lidando com todos aqueles sentimentos desde que as duas se separaram, quase um ano atrás. Pensando onde ela tinha errado tanto para que Camila fizesse tudo o que fez com ela. Camila mentiu, olhando em seus olhos, se aproveitando da sua ingenuidade para manipular Fernanda a

A bicicleta

Você sabe quais as melhores coisas de sair pelo mundo a pedalar? Bom, a primeira delas, óbvio, é poder ver cenários maravilhosos sem gastar um centavo com gasolina ou qualquer outro combustível, além do próprio esforço. É por vezes exaustivo, sim, não vou mentir. Mas a verdade é que, para mim, nada substitui o vento na cara, o prazer de chegar no alto depois de uma subida e poder pensar “eu cheguei até aqui sozinha”. A bicicleta não cobra nada se faz duas horas, dois dias ou dois meses desde a última vez que você pegou a magrela para dar uma volta. Ela não reclama da distância, do clima, muito menos do terreno. Para ela não faz diferença se está chovendo ou não, se você está apenas pedalando por pedalar ou se está treinando para uma competição. Ela não reclama da sua roupa, nem da cor ou do corte do seu cabelo. Ela não vai te assediar porque gostou da cor da sua calcinha ou porque a bermuda está muito justa. Ela não reclama do seu peso. Muito pelo contrário: ela vai te ajudar a